sábado, 30 de janeiro de 2010

Da Paraíba e o futebol

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Dez dias no querido Estado da Paraíba foram bem aproveitados futebolísticamente falando.

Pousamos em Campina Grande, cidade bonita, com aproximadamente 400 mil habitantes. Estava 25ºC quando chegamos. Fomos ao shopping da cidade, detentora da rivalidade entre o Treze e o Campinense – este recentemente rebaixado para a Série C.

Lá, tive a sorte de me deparar com uma loja oficial do Campinense, destas que ficam no meio do corredor do shopping. A camisa estava em promoção. Não hesitei e peguei a minha, já que era muito bonita e o preço era atraente. Rubro-negra, com o símbolo do time que é muito bonito, um patrocínio fantástico do famoso São João de Campina Grande. Destaque para o cômico patrocínio da Silvana, indústria metalúrgica, que fica na parte de trás da camisa, parecendo ser o nome do jogador.

Feito isso fomos para o sítio, que fica num município de 5 mil habitantes, Junco do Seridó. Neste, todos torcem por times de RJ-SP, sobretudo Vasco, Flamengo e Corinthians, não necessariamente nessa ordem. Mas a maioria dos torcedores são mistos – esta praga –, tendo como segundo time principalmente o Treze ou o Campinense, já que Campina Grande é mais perto do que João Pessoa, terra do Botafogo-PB, e o Nacional de Patos não tem tanta expressão. Encontra-se facilmente quem num dia está com a camisa do Flamengo, no outro com a do Treze.

O paraibano gosta de futebol, como bom brasileiro que é. Porém, liga a televisão e só encontra o que nela passa: times do eixo RJ-SP. Os meninos vão à loja de vídeo-game jogar um jogo de futebol e na relação de times brasileiros não encontram os times locais. Aí é covardia. Como vai fazer esse menino apoiar o time local (“support your local team”, como dizem os ingleses)?

Prosseguindo, em Patos há dois times: o Nacional de Patos e o Esporte Clube de Patos, o “Terror do Sertão”, que curiosamente tem o Pato Donald no símbolo. Ganhei a camisa branca do meu tio; meu irmão, a vermelha e branca – muito mais bonita, diga-se de passagem.

Já estava com duas camisas de times paraibanos, quando no sétimo dia fomos a Campina Grande. Que cidade linda! Gostosa de morar, a despeito do intenso calor. Fui disposto a comprar mais camisas, desde que o preço fosse atrativo, é óbvio.

Logo na entrada da cidade, nos deparamos com o estádio do Campinense, que me pareceu ser bem modesto. Nas proximidades, e em demais lugares da cidade, encontram-se pichações da Torcida Jovem do Treze e da torcida do Campinense.

Enfim, chegamos ao centro, de frente para a loja oficial do Treze. E, pasmem, a loja oficial do Campinense é logo em cima, como acusa a foto que tirei:

A rivalidade campinense se encontra lado a lado no centro da cidade.

Fomos à loja e perguntamos pelas camisas. Tinha a camisa I, branca, e a III comemorativa, que achei feia. Nenhuma em tamanho G ou GG, um preconceito à gente gorda e alta, como eu. Do meu tamanho só tinha uma de treino, que não gostei. A listrada, que eu queria, não tinha. Tinha bandeiras, troféus de títulos, etc. Havia gente comprando camisas, mulheres procurando para os maridos, o que me agradou muito. Na frente da loja uma concentração de homens discutindo futebol, alguns com a camisa do Treze. Como eu já havia obtido a camisa do Campinense, não fomos à loja deste.

Seguimos mais para o Centro, em busca de outras lojas de esportes que tivessem camisas de times locais. Só locais. Sem sucesso. Fomos em mais três ou quatro lojas e nada de camisas de times locais. Os atendentes diziam que estas poderiam ser encontradas apenas nas lojas oficiais dos clubes, nas quais eu já tinha ido, como já disse.

Então, frustrado por não encontrar uma camisa do Treze do meu tamanho ou de qualquer outro time da Paraíba que fosse, perguntava aos atendentes se havia camisas de outros times nordestinos. A resposta era sempre: “só tem do Sport”. Entretanto, camisas de times cariocas ou paulistas eram facilmente encontradas...

Em termos gerais, gostei muito do que vi na rua. É claro que víamos muitas camisas de Flamengo, Corinthians, Vasco, São Paulo etc., em sua maioria falsificadas. Porém, era uma segunda-feira, e no dia anterior o Treze havia ganhado pelo campeonato paraibano, assim como o Botafogo (de João Pessoa), ao contrário do Campinense, que apenas empatou. Encontramos, portanto, muita gente com a camisa alvinegra do Treze.

Mas vamos à grande glória da viagem. O motorista que nos levou era muito gente fina e conhecia muita gente. Inclusive me contou muita coisa a respeito de Marcelinho Paraíba, que é glorificado na cidade. Disse-me que ele provinha de um bairro chamado José Pinheiro, considerado um dos mais violentos e pobres da cidade. No "Zé Pinheiro", Marcelinho teria feito vários projetos para a molecada crescer na vida, que ajudava a montar várias bandas de forró, como a 100% Paraíba que ele tem atualmente, mas que o pessoal não era muito interessado - opinião do motorista. Disse ainda que ele era amigo de todos, e que todos o adoravam na região. Quando ele chega de férias no Zé Pinheiro, é uma festa enorme. Contou também que Marcelinho adora beber uma cana e que, por ser amigo de todos, vai nas festas e paga bebida para todo mundo que ele conhece, inclusive para quem é da bandidagem, que deve ter crescido junto com ele no bairro. Enfim, Marcelinho é adorado pelos campinenses e tem fama de cachaceiro.

Continuando, comuniquei ao motorista meu desejo de ter uma camisa da tão comentada Perilima, do Pedro Ribeiro de Lima. Ele comentou que conhecia gente que já havia jogado pelo time e ia contatar essas pessoas em busca da camisa. Eu, por conta própria, procurei no centro da cidade a camisa com pessoas que poderiam conhecer o Seu Pedro, mesmo sabendo que seria muito difícil encontrar.

Ao fim da tarde, porém, quando o motorista foi nos buscar, disse que havia pegado o telefone de Seu Pedro para ligarmos a fim de entrarmos em contato. Liguei, mas ninguém atendeu. Só de ter ligado para Seu Pedro eu já tinha história para contar para todo mundo. Todavia, seguimos rumo à fábrica, para comprarmos sorda preta da Perilima, uma bolacha feita da rapadura, muito degustada na região. Fomos, mas sem esperança de encontrar Seu Pedro, já que era final da tarde.


O símbolo mais recente da Associação Desportiva Perilima.

Chegando lá, encontrei o carro com o símbolo do time, que tem um gavião e o nome do clube: Perilima. Ao lado, a Kombi da fábrica, que provavelmente distribui a sorda para os compradores pela cidade. Muitas padarias compra sorda da Perilima. Logo em seguida, para nossa felicidade, encontramos Seu Pedro na porta da fábrica, conversando com seu filho e um cliente. O motorista falou: “ói só, tu deu sorte: Seu Pedro tá ali”. Não acreditei, mas era mesmo ele! Baixinho, com bigode, cabeça grande, a cara típica do paraibano. Eu, o motorista e minha família fomos de encontro ao grande ídolo Seu Pedro, famoso por ser o "artilheiro de um gol "apenas, de pênalti. Iniciamos a conversa, nos apresentamos e eu disse que estava querendo uma camisa do time da Perilima. Minha mãe acrescentou a Seu Pedro que eu era um grande fã seu – forma de dizer, claro. Contei-lhe que conheci seu time na Internet, que já havia inclusive doado R$10,00 no www.ajudeaperilima.blogspot.com e que contava do time a muitos amigos meus. Perguntei-lhe se não queria se “desfazer” de uma camisa do time. Ele disse que não tinha nenhuma, mas foi procurar em sua casa se havia alguma dando sopa.

Enquanto isso fiquei aguardando, entrei na fábrica e fiquei analisando, enquanto minha mãe comprava as sordas. Uns 5 a 10 minutos depois surge Seu Pedro com meu grande troféu que pensei que jamais conseguiria: a camisa da famosa Perilima! Era uma camisa usada, de 2005, quando o time competiu pela primeira divisão paraibana. Notavam-se as manchas na camisa com facilidade. Mas fiquei emocionado, confesso. É a Perilima, porra! Analisei-a, coloquei-a no ombro e perguntei a Seu Pedro se era presente ou se ele estava vendendo, ao que ele respondeu: “homi, mi dê qualqué coisinha aí”. Disse-lhe novamente que já havia dado R$10,00 antes, ao que ele acrescentou: “apois me dê mair vinte!”. Hahahaha. Disse que ia dar mais R$10,00, mas a mãe prometeu dar R$20,00, junto com o dinheiro da compra das sordas pretas.

Problema financeiro resolvido, passei a conversar mais com Seu Pedro. Ele disse que a Perilima se dava mal porque não tinha dinheiro, que o problema econômico impossibilita-os de montar um bom time (formado, aliás, com os funcionários da fábrica de Seu Pedro) e que alguns pagamentos de fomento ao esporte não haviam sido feitos – aí complica de vez, né! Nos soltamos na conversa e aí resolvi brincar com Seu Pedro. Perguntei se havia feito gol em 2009, ele disse que não, “não deu pra fazer gol”. Hahaha. Perguntei das doações na Internet, ele respondeu que a mulher que estava cuidando disso se desencantou com o time, mas não comentou nada a respeito do fim que esse dinheiro levou. Acrescentou ainda que um grande óbice à estruturação do time é ausência de apoio dos seus filhos, que acham que o time só dá prejuízo. Brinquei ainda com Seu Pedro perguntando com quantos anos ele estava: “tu tás com quanto, Seu Pedro? 55 anos já?", sendo que eu sabia que ele já tinha 60. Ele respondeu: “oxi, já to com 61 agora”. “Tá nada, Seu Pedro! Quem é que dá 60 anos no senhor?”. Minha mãe entendeu a graça e acrescentou: “É mesmo! Isso é o esporte que faz”. Ele ficou todo contente, sorriu bastante.

Por fim, por ter pagado $20,00, disse a Seu Pedro que eu tinha direito a uma foto com ele. Minha irmã preparou o celular e tirou a foto que segue abaixo, uma grande conquista na minha vida, já que foi com o grande Seu Pedro, dono, jogador, técnico, artilheiro e tudo o mais da Perilima:












À esquerda, a Kombi da fábrica. À direita, o carro do time, com o brasão oficial.
Abaixo, ao lado de Seu Pedro, eu pousando com a camisa da Perilima.

Feito isso, nos abraçamos. Aliás, uma grande prova da felicidade de Seu Pedro com nossa visita foi o abraço que ele me deu: um abraço forte, de quem se agradou com minha presença. Me despedi dele e de seu filho e prometi: “ainda vejo um jogo do time de vocês!”. Com sorrisos, cada qual contente com seu cada qual, cada um foi para o seu lado.

Durante toda a viagem de volta carreguei a camisa da Perilima no colo, satisfeito com minha conquista humilde porém de grande significação, que ainda vai me render muitas histórias.

Pelo grande feito, prometemos ao motorista que nos levou até Seu Pedro uma camisa de um time paranaense. Perguntamos a ele qual time era de sua preferência. Ele disse que não gostava muito de times paranaenses – antes, durante a viagem, já tinha nos mostrado sua bela visão de futebol, nos contando que preferia torcer por times locais, no caso o Nacional de Patos, a times de fora, a despeito de o mesmo ter dito simpatizar com o Corinthians-SP. Pensou mais um pouco e disse que do Paraná achava bonita a camisa do Atlético-PR. Agora estamos devendo uma camisa do Furacão ao motorista.

A respeito da Perilima, para conhecer mais acesse:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Associa%C3%A7%C3%A3o_Desportiva_Perilima

http://www.arquivodeclubes.com/pb/perilima.htm
http://www.timesdelbrasil.com.br/PB/ad_perilima-pb.htm

No final da viagem, ainda deu para ver de longe o estádio Almeidão, em João Pessoa:

Estádio Almeidão, em João Pessoa.

Por fim, voltei com alegria do Estado da Paraíba, já que o cenário não mudou muita coisa, mas pude participar dessa realidade muito mais do que participava antes. Ainda, voltei com três camisas de três times diferentes e pude também dar uma voltinha em Caicó-RN, em busca da camisa do Coríntias de Caicó, o Galo do Seridó, mas infelizmente sem sucesso.

O saldo, porém, foi muito positivo. Saudações ao futebol nordestino!
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Um comentário:

Rafael disse...

HAHHAHAHAHHAHAA

Show de bola Vino!!!

Muito "bacana" sua iniciativa de prestigiar o futebol e a cultura local. Bom se todos fossem assim!

E só vc mesmo pra conseguir um feito desses hahhaa

Agora, NÃO FODE, camisa do trétis pro motorista? Compra do Coxa porra hhahahaha