terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma visão sobre a Malhação

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Malhar, malhar, malhar...
Por Jonas Pasck

O imaginário coletivo formado pelas novelas juvenis das tardes globais

É muito interessante, hoje em dia, observarmos o que se passa na TV para tentarmos entender como está se formando o imaginário coletivo da sociedade atual. Em um desses instantes em que paramos na frente da televisão, ou por falta do que fazer, ou pela necessidade de se descansar de um dia estressante como todos os outros dentro de uma rotina que, cada vez mais, acelera o ritmo de nossas vidas em prol da articulação e defesa do fundamentalismo que rege a nossa sociedade capitalista, apontado com toda autoridade pelo geógrafo brasileiro Milton Santos, o consumismo. Em um desses momentos deparei-me com o programa preferido pela pré-adolescência brasileira, responsável por moldar a personalidade das nossas crianças, a Malhação.
Tal programa, recheado de uma atmosfera burguesa onde seus personagens usufruem de tudo o que tem de bom e de melhor no que diz respeito aos artigos e adornos da moda mais cobiçados pela juventude, desde os mais abastados até os de menores condições econômicas. Tal estilo de vida burguês vendido pelo programa mexe com os sonhos e aspirações de uma juventude gerando, quando esta não desfruta de uma condição econômica favorável para a obtenção de tais adornos, uma exclusão social de tal violência que pode ser colocada ao lado dos piores efeitos colaterais gerados por um sistema capitalista em que as relações sociais estão subordinadas pelo capital.
Tal ponto de vista entra em contradição com o discurso “politicamente correto” de seu roteiro e personagens, os quais são dotados de uma conscientização social e grande espírito solidário ao mesmo tempo em que vendem produtos supérfluos à educação das nossas crianças em merchandising forçadas e de muito mau gosto que impõe à nossa juventude o que seria bom e importante para o seu desenvolvimento social. Existiria coisa mais importante para um adolescente do que um cabelo bem tratado pela proteção de um Garnier Fructis? Ou possuir um celular para que pais equivocados possam melhor controlar seus filhos de uma possível expressão “subversiva” de sua personalidade?
O “Projeto Malhação” tem um modelo simples de elaboração. Um casal protagonista esquivando-se de vilões pré-adolescentes dotados de uma incrível capacidade de articulação maquiavélica e tamanha falta de escrúpulos que não se poderia medir a conseqüente influência desta no seio da nossa juventude. No roteiro desenvolvido para 2008 estabelece-se um antagonismo para a moral e os bons costumes da nossa sociedade conservadora. A “mocinha” do casal protagonista entregou o que existe de mais sagrado para a moral conservadora da nossa sociedade: sua virgindade. Porém, esta foi entregue a outro que não o “mocinho” do casal protagonista e, como se não bastasse essa “demonstração de desrespeito contra a moral e os bons costumes”, a personagem veio a engravidar do “outro”. Nada que abalasse o “fantástico mundo da Malhação”, pois, como já observamos antes, todos seus personagens são dotados de um incrível senso de compreensão e solidariedade. Mas, e na vida real? Como tal comportamento reflete na nossa sociedade, tanto na nossa juventude como no seio de uma sociedade conservadora? Como a sociedade se comporta perante uma adolescente que tem seu amor prometido à sua alma gêmea e, no alto dos seus 15 ou 16 anos, engravida de outro?
Partindo do preceito de que esse tipo de programa atinge a população de uma faixa etária que está entre os 10 e os 15 anos, em processo de formação de sua personalidade, dúvidas e curiosidades a despeito da sexualidade, uma erupção de hormônios que se mescla com as confusões impostas por uma mídia tendenciosa e manipuladora. Ao apresentar o mesmo tipo de comportamento que a personagem como esta criança, que se espelha em seus ídolos no intuito de uma inserção social, é julgada por uma sociedade conservadora que condena tal comportamento? O que falta à nossa sociedade para melhor lidarmos com tais situações, mais compreensão ou menos hipocrisia? Quem são os responsáveis, a criança que teve esse comportamento “subversivo” ou a hipocrisia de uma mídia que ao mesmo tempo em que vende idéias conservadoras em beneficio de uma minoria, que lucra cada vez que a massa oprimida se racha em discórdias superficiais e sem importância desviando seu olhar de coisas realmente importantes, e usando os meios de comunicação para vender um estilo de vida e incentivar um consumismo exacerbado que gera uma ilusão anestésica de liberdade e articula as relações de poder dentro da sociedade capitalista?

Jonas Pasck é estudante de História

Fonte: Caros Amigos

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